Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Centro de Educação
Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação
Departamento de Sociologia
Disciplina: Fundamentos da Educação


1.                  O livro didático é ideológico? Explique.

Silva e Carvalho em “O livro didático como instrumento de difusão de ideologias e o papel do professor intelectual transformador”, afirmam que o livro “como principal orientador do trabalho de professores e alunos na escola” é um instrumento de difusão de ideologias. Sendo assim, os professores não devem ser apenas seguidores fieis das orientações contidas dentro deles, mas eles [os professores] enquanto “intelectuais transformadores” devem burlar as suas leis e fazer do livro didático um importante veículo de construção do senso crítico e da contra-ideologia.
O livro didático por sua vez, deve ser empregado como um instrumento que pode “contribuir no favorecimento de uma conscientização sobre as pluralidades culturais que compõem a realidade social” afirmam Silva e Carvalho. Para estes autores o livro didático por trazer uma carga ideológica acentuada não pode ser transmissor e propagador da manutenção de preconceitos e do fortalecimento dos valores hegemônicos legitimadores existentes na sociedade que silenciam as vozes das minorias excluídas.
O livro didático afirmam os autores, “muitas vezes, atua como difusor de preconceitos, através das ideologias que carregam seus discursos”. Em uma sociedade marcada pela luta de classes verificamos que a classe que está no poder sustenta e legitima suas ideologias  fazendo prevalecer suas “narrativas e discursos presentes nos textos dos livros didáticos, assim como, as representações, concepções e significados” que encerram nos conteúdos que são escolhidos para pertencer ao campo didático do livro.
No texto em questão os autores são categóricos ao afirmar que “os discursos e as imagens veiculadas nos livros didáticos têm o poder de representar pessoas, costumes, posturas e valores, podem contribuir para ‘dizer’ que determinados costumes, posturas ou ações estão ‘certas’ ou ‘erradas’ (...), dentre inúmeros outros aspectos que transitam ideologicamente pelas páginas destes materiais nas escolas”.
É sabido que não existe neutralidade na elaboração do livro didático como também não existe neutralidade na educação.  A partir modelo de escola que estamos construindo e independente do papel que assumamos na escola o livro didático terá sempre uma função.

02. Qual o papel do professor no trato e trabalho para com o livro didático? Pontue explicações.

Para Gómez (1998) “a prática docente é uma atividade complexa, que se desenvolve em cenários contextuais singulares, com resultados imprevisíveis e envoltos nos mais diversos conflitos valorativos” e o ensino “um processo de transmissão de conhecimentos e de aquisição da cultura acumulada historicamente pela humanidade”. Portanto em sala de aula o professor é o agente da autonomia na transmissão destes saberes e de como transmitir estes ensinamentos sabendo filtrar as marcas ideológicas encontradas no livro didático. Por sua vez também enquanto profissional do ensino o professor enquanto “investigador reflexivo” deve contribuir para o desenvolvimento emancipador dos alunos a ele confiados.
No atual contexto educacional, os autores julgam ser “imprescindível que os professores sejam capazes de contribuir na formação de pessoal para atuar de forma consciente no entorno comunitário onde vivem, (...) que sejam capazes de efetivarem escolhas que possam, de alguma forma, refletir positivamente em sua vida e na existência de seus pares” servindo para a formação de estudantes que “possam vir a se tornar sujeitos sociais emancipados, cidadãos reflexivos e ativos” no seio da sociedade.
Os autores sinalizam que se pensarmos a escola a partir de uma concepção democrática teremos um trabalho pedagógico voltado para uma formação mais integral dos alunos onde os aspectos cognitivos, humanos, afetivos sejam perpassados pela ética e pelo respeito.
Neste sentido, o papel do professor segundo os autores é em sala de aula estabelecer a contra-ideologia dos discursos presentes no livro didático desmistificando supostas verdades fazendo os alunos compreender que todo discurso é carregado de intenções porque são construídos historicamente segundo interesses da classe hegemônica que dissemina informações com o maior poder de convencimento possível tornando a informação uma verdade aceita e inquestionável.
Por fim, Silva e Carvalho atestam que enquanto intelectuais transformadores, os professores, devem “lutar pela transformação, ou construção, do livro didático num instrumento facilitador do trabalho pedagógico, no sentido de dar ‘voz’ às muitas e diversas concepções silenciadas nos discursos e nas imagens destes livros”. Enfim, cabe aos professores se apropriarem criticamente das informações contidas nos livros didáticos tornan-do-as parte de um discurso resignificado que conduza a ações que contribuam para mudanças significativas na vida dos alunos.
Giroux (1997) enfatiza que os professores devem assumir responsabilidade ativa pelo levantamento de questões sérias acerca do que ensinam assumindo um papel responsável na formação dos propósitos e condições de escolarização.

Referências:

GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
GÓMEZ, A. L. Perez. A função e formação do professor/a no ensino para a compreesão: diferentes perspectivas. In: SACRISTÁN, J. Gimeno e GÓMEZ, A. L. Perez. Compreender e transformar o ensino. 4ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SILVA, Robson Carlos da. CARVALHO, Marlene de Araújo. O livro didático como instrumento de difusão de ideologias e o papel do professor intelectual transformador. UFPI.









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Disciplina: Fundamentos da Educação


BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2006.

Em “O que é educação” Carlos Rodrigues Brandão nos auxilia na compreensão do papel e a função da escola enquanto instituição social apta para trabalhar nos sujeitos tudo aquilo que eles precisam para viver e se comportar em sociedade. Segundo o autor a educação faz parte da vida do sujeito e, portanto ninguém pode escapar dela.
“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação” (BRANDÃO, 2006, 07).

Para o autor misturamos vida com educação sem poder separar uma da outra e é a educação que vai dando os contornos e fomentando no sujeito tudo o que ele precisa para uma sociedade que ao nascer ele já encontra pronta e estruturada. Neste sentido o autor assevera que
 “A educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar e pensar que tipo de homem e que tipo de sociedade é desejada. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda a educação participa do processo de produção de crenças e idéias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades” (BRANDÃO, 2006, 11).

 No livro acima citado Brandão continua dizendo que “a educação acontece pelas formas vivas e comunitárias de ensinar e aprender. Há esse processo global damos o nome de socialização”.  Para este autor, através da educação,
“cada um de nós passa por etapas sucessivas de inculcação de tipos de categorias gerais, parciais ou especializadas de saber e habilidade. Elas fazem, em conjunto, o contorno da identidade, da ideologia e do modo de vida de um grupo social. Elas fazem, também, do ponto de vista de cada um de nós, aquilo que aos poucos somos, sabemos, fazemos e amamos” (BRANDÃO, 2006, 23).

Do exposto, concluímos que segundo as palavras do autor, “a socialização realiza em sua esfera as necessidades e projetos da sociedade, e realiza, em cada um de seus membros, grande parte daquilo que eles precisam para serem reconhecidos como “seus” e para existirem dentro dela” (BRANDÃO, 2006, 23).
Outro conceito importante advindo do processo de socialização que as gerações anteriores realiza nos mais jovens inculcando neles tudo o que é necessário para afirmar nestes a marca de iguais é o que o autor chama de endoculturação. É dele a explicação do conceito a seguir. Vejamos:
“Ora, no interior de todos os contextos sociais coletivos de formação do adulto, o processo de aquisição pessoal de saber, crença e hábito de uma cultura, que funciona sobre educandos como uma situação pedagógica total, pode ser chamado de endoculturação” (BRANDÃO, 2006, 23).
Dito isto, o autor nos ajuda a compreender que
 “Tudo o que existe disponível e criado em uma cultura como conhecimento que se adquire através da experiência pessoal com o mundo ou com o outro; tudo o que se aprende de um modo ou de outro faz parte do processo de endoculturação, através do qual um grupo social aos poucos socializa, em sua cultura, os seus membros, como tipos de sujeitos sociais” (BRANDÃO, 2006, 25).

 Para o autor, “a educação do homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo o meio sociocultural sobre os seus participantes” (BRANDÃO, 2006, 47). Este conceito já foi elaborado anteriormente em outras linhas, mas o autor o complementa dizendo que “é o exercício de viver e conviver que educa. E a escola é apenas um lugar e um momento provisórios onde isto pode acontecer” (BRANDÃO, 2006, 47). Para o escritor de “O que é educação” a escola aparece aqui como um espaço, tempo e lugar não conclusivos do longo processo e ato de educar. Este processo perpassa toda a vida e nunca se encerra no espaço físico escolar.
Mas a escola é para todos? Ela e o seu ensino são democráticos? Escola ou empresa? Perguntas inquietantes que encontramos no livro e merecedoras de respostas sólidas. Vejamos como o autor responde estas perguntas.
“A política educacional implantada levou à progressiva desobrigação do Estado com o custeio da educação, e à expansão do ensino privado. Assim, a educação está aberta à ação dos empresários do ensino, sujeitas às leis da iniciativa privada, sendo negociada como mercadoria entre as partes interessadas em vender e comprar, o que revela o caráter elitista do atual processo educacional no Brasil” (Boletim Nacional das Associações de Docentes, nº 03 apud BRANDÃO).

Com a expansão do ensino privado no país a educação atualmente tem servido aos interesses de uma classe que faz proveito da escola e fazem dela uma empresa de compra e venda do saber institucionalizado. Sobre isto continua o autor
“Não é raro que aqui, como em toda parte, a fala que idealiza a educação esconda, no silêncio do que não diz, os interesses que pessoas e grupos têm para os seus usos. Pois do ponto de vista de quem a controla, muitas vezes definir a educação e legislar sobre ela implica justamente ocultar a parcialidade desses interesses, ou seja, a realidade de que eles servem a grupos, a classes sociais determinadas, e não tanto ‘a todos’, ‘à Nação’, ‘aos brasileiros’” (BRANDÃO, 2006, 59).

Mas qual é a função da educação? Para Brandão
  “a educação, como ideia (a definição, a filosofia), deve ser pensada em nome da pessoa e, como instituição (a escola, o sistema pedagógico) ou como prática (o ato de educar), deve ser realizada como um serviço coletivo que se presta a cada indivíduo, para que ele obtenha dela tudo o que precisa para se desenvolver individualmente” (BRANDÃO, 2006, 62).  
Do exposto acima fica claro que a educação segundo Brandão
“é uma prática social cujo fim é o desenvolvimento do que na pessoa humana pode ser aprendido entre os tipos de saber existentes em uma cultura, para a formação de tipos de sujeitos, de acordo com as necessidades e exigências de sua sociedade, em um momento da história de seu próprio desenvolvimento” (BRANDÃO, 2006, 73).

Portanto, a educação é uma necessidade que garante a continuidade da vida humana, através da transmissão constante das experiências acumuladas pelo grupo às novas gerações, que deve cumprir a função social de produzir um ser humano plenamente desenvolvido.

Discentes:


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Departamento de Ciências Sociais


Luciano Souza Medrado.

O Homem Metropolitano em Georg Simmel.

Em “A metrópole e a vida mental” (1902) Simmel afirma que “os problemas mais graves da vida moderna derivam da reivindicação que faz o indivíduo de preservar a autonomia e a individualidade de sua existência em face das esmagadoras forças sociais, da herança histórica, da cultura externa e da técnica de vida”. A partir desta afirmação inicial, Simmel vai nos mostrar como os indivíduos se preservam psicologicamente diante da imensurável quantidade de estímulos que a vida metropolitana proporciona aos que dela gozam.
Marcada pela impessoalidade a metrópole apresenta o espaço urbano como aquele que proporciona maior liberdade para o individuo que pode se expressar nas mais diferentes faces de sua identidade, com maior liberdade, em virtude do menor controle social, que em geral são realizados por pequenos grupos como em cidades de pequeno porte, ou seja, “o ritmo e a multiplicidade da vida econômica, ocupacional e social, a cidade faz um contraste profundo com a vida de cidade pequena e a vida rural no que se refere aos fundamentos sensoriais da vida psíquica” (SIMMEL, 1902 in VELHO 1979, 12), conclui o autor.

Em decorrência dos excessos de estímulos contratantes impostos aos nervos, sendo “a base psicológica do tipo metropolitano de individualidade constituída na intensificação dos estímulos nervosos” (SIMMEL, 1902 in VELHO 1979, 12), o indivíduo desenvolve uma atitude blasé (indiferença), ou seja, uma recusa a reagir a esses estímulos, sendo esta a sua forma de acomodar-se ao conteúdo e a forma da vida metropolitana.

Para o autor em estudo, o tipo de homem ideal para a vida em uma metrópole precisa desenvolver um órgão para protegê-lo “das correntes e discrepâncias ameaçadoras de sua ambientação externa, as quais, do contrário, o desenraizariam” (SIMMEL, 1902) e para o autor o órgão seria o cérebro. Desta forma, a vida em uma metrópole implica em uma consciência elevada e uma predominância da inteligência sobre as emoções. Desta forma, a intelectualidade serve para preservar a vida subjetiva contra o poder descomunal da vida em metrópole em que o homem está inserido.
O homem que vive em grandes cidades vive em um estado de resistência para manter sua subjetividade, autonomia e individualidade. A metrópole devido a sua vida frenética faz com que o indivíduo reaja menos emocionalmente e mais com a inteligência, sendo esta uma atitude de reserva, frente aos estímulos da metrópole.
Da leitura atenta compreende-se que essa atitude é um dos dois extremos do comportamento do homem metropolitano atingido diretamente pela vida moderna, no qual a pessoa mergulha em sua própria subjetividade sem se envolver quase que praticamente com o meio externo.
Desta atitude de reserva nasce o distanciamento do homem metropolitano com os seus pares por meio de uma atitude de desconfiança, e por isso, “a mente moderna se torna mais e mais calculista” (SIMMEL, 1902 in VELHO 1979, 14). Por meio da atitude de reserva o homem metropolitano será confundido com frequência com uma pessoa fria e antipática em seus relacionamentos. Entretanto esta atitude desemboca em uma outra, a solidão como marca da vida na metrópole.

Decerto é apenas o reverso dessa liberdade se, sob certas circunstâncias, em nenhum lugar alguém se sente tão solitário e abandonado como precisamente na multidão da cidade grande; pois aqui, como sempre, não é de modo algum necessário que a liberdade do ser humano se reflita em sua vida sentimental como um sentir-se bem. (SIMMEL, 2005 [1903]. p. 585)


Da perspectiva de Simmel, a solidão e o abandono seriam o preço que a liberdade cobraria dos cidadãos pela vida nas metrópoles levando-o ao anonimato. É dele a afirmação do exposto acima quando diz que “a pessoa em nenhum lugar se sente tão solitária e perdida quanto na multidão metropolitana” (SIMMEL, 1902 in VELHO 1979, 20).
 Outra particularidade da metrópole mergulhada no sistema capitalista e apontada por Simmel é a gama de ofertas e serviços que a metrópole dispensa àqueles que fazem uso dela. Para o autor, a relação do homem metropolitano com o dinheiro faz com que o mesmo desenvolva uma relação objeta e de distanciamento com as outras pessoas. Para Simmel, o dinheiro é o indicador de realizações espirituais da época moderna porque cria condições para dinamizar a própria modernidade como é o caso da velocidade, mobilidade e racionalidade em detrimento a atitudes emocionais.
REFERÊNCIA

SIMMEL, G., A Metrópole e a Vida Mental, in VELHO, Otávio Guilherme (org.), O Fenômeno Urbano, 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espirito. Mana, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, 2005. (trad. Leopoldo Waizbort). Disponivel em: . Acesso em: 25 de dezembro de 2013.







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 Luciano Souza Medrado.



Aqui se busca compreender o percurso da teoria da identidade nacional e seus desdobramentos em Gilberto Freyre, escritor pernambucano que se debruçou em analisar a formação do povo brasileiro em muitos de seus livros publicados, especialmente em ‘Casa-Grande & Senzala (1933)’, um divisor de águas na concepção da identidade cultural brasileira que delineia pela primeira vez de forma objetiva a identidade cultural mestiça do Brasil e exaltando em sua obra a cotidianidade através da história íntima do real. O percurso continua com Sérgio Buarque de Holanda em ‘Raízes do Brasil (1936)’, seguindo com Caio Prado Júnior em ‘Formação do Brasil Contemporâneo (1942)’ e por fim concluirei com as análises de Raymundo Faoro em ‘Os Donos do Poder (1973)’. Neste ensaio procuro responder as seguintes questões: O que nos une? O que cria em nós um sentimento de pertencimento? O que nos faz brasileiros? Qual a nossa identidade nacional? Essas são indagações que vários autores que se propuseram a estudar a identidade nacional se deparam e discutem até hoje e que aqui farei um breve traçado bibliográfico buscando respondê-las. Na oportunidade busco elucidar a partir das análises de Florestan Fernandes em ‘O negro no mundo dos brancos (2007)’ o mito da democracia racial no Brasil.
Na obra citada Freyre conseguiu executar a façanha teórica de dar caráter positivo ao mestiço e ao negro numa época em que tal característica era considerada um dos piores males no drama do desenvolvimento brasileiro uma vez que a nossa concepção de desenvolvimento na época estava presa aos moldes europeus, ou seja, enquanto a Europa continuasse a ser modelo de vida social a ser copiado, essa concepção errônea nos levaria a negar a própria essência cultural brasileira. Em O Longo Amanhecer, Furtado (1999) confirma a argumentação dizendo que o distanciamento entre elite e povo será o traço marcante do quadro cultural que emergirá como forma de progresso entre nós, continua dizendo que neste momento como que hipnotizadas, as elites, voltavam-se para os centros da cultura europeia porque o povo havia sido reduzido a uma referência negativa, símbolo do atraso conclui o autor.
Muniz Sodré (2000, 81) segue na mesma direção ao afirmar que “as elites brasileiras sempre fantasiaram em torno da Europa como espaço simbólico superior e adequado”.
A composição da identidade mestiça, para Freyre, dá-se quase como contágio e não é por menos que em Casa Grande & Senzala ele fala em ‘sifilização’ para designar tal processo.  Para o autor neste processo não existe prevalência do biológico sobre o cultural, é dele a afirmação que segue encontrada no prefácio de sua obra maior ‘Casa Grande & Senzala’:
“Foi o estudo de Antropologia sob a orientação do Professor Boas que primeiro me revelou o negro e o mulato no seu justo valor – separados dos traços de raça os efeitos do ambiente ou da experiência cultural. Aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça e cultura; a discriminar entre os efeitos de relações puramente genéticas e os de influências sociais, de herança cultural e de meio. Neste critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura assenta todo o plano deste ensaio. Também no da diferenciação entre hereditariedade de raça e hereditariedade de família” (Freyre, 1933)

Para Freyre, a grande lição da miscigenação brasileira está justamente nesse reconhecimento do outro como parte constituinte de si mesmo por meio do cruzamento das matrizes culturais. Para Freyre, miscigenação não é a negação de sua múltipla herança cultural, pelo contrário, é sua afirmação. É a “miscigenação que se torna elemento fundamental para o triunfo do empreendimento português no Brasil, compensando a deficiência de volume humano para a colonização em tão amplo território” (BASTOS in MOTA, 2001, 220).
Dialogando com autores de sua época e até mesmo refutando seus conceitos (escritores racistas) Freyre definirá o papel do escravo negro na formação brasileira e na constituição da identidade nacional apontando para isso quatro vertentes para confirmar sua elaboração (BASTOS in MOTA, 2001, 228):
Primeiramente levanta os traços psicossociais do negro, apontando para a sua adaptabilidade ao trópico, um dos indicativos da não inferioridade da raça negra em relação à branca. Em segundo lugar, procura demonstrar que na formação nacional existe uma marca profunda, menos racial do que cultural, do estoque africano no Brasil; e como resultado disso, a partir da interpenetração das culturas lusas e africanas, origina-se um processo que aproxima os antagonismos decorrentes da oposição senhor/escravo. Em terceiro lugar, atribui uma função social diferente da convencionalmente atribuída ao negro na formação brasileira, a partir da qualificação dele como colonizador, isto é, dando ênfase ao papel civilizador por ele representado. E, como resultado dos pontos levantados anteriormente, indica a sociedade brasileira como caracterizada pela democracia racial.
Democracia racial como mito que funda uma consciência falsa da realidade. Não obstante, o que é uma democracia racial? A ausência de tensões abertas e de conflitos permanentes é, em si mesma, índice de “boa” organização das relações raciais? (FERNANDES, 2007, 39). Oportunamente neste trabalho retornarei ao tema.
Do apresentado Freyre conclui que o perfil da formação social nacional deve-se ao africano e que todo brasileiro é racial ou culturalmente negro.
O escravo negro formou o caráter brasileiro deixando como legado sentimentos e valores expressos em nossa sensibilidade, imaginação, os vários hábitos de alimentação, crenças, tradições musicais e linguagem. Para a autora citada foi a mucama quem exerceu uma grande influência na educação das crianças, fomentando nelas crendices, alterando a língua tradicional portuguesa, tornando segundo a autora em “uma fala sem ossos” mais adocicada operando “um amolecimento de resultados às vezes deliciosos para o ouvido”.
E o que falar da língua? Para Freyre no processo de assimilação dos negros à sociedade de raiz portuguesa, as diferentes línguas africanas não persistiram, porém, a língua portuguesa segundo ele perdeu a sua pureza, não se corrompendo totalmente.
Em Raízes do Brasil (1936), Sérgio Buarque de Holanda examina as formas de sociabilidade existentes no Brasil na época da tessitura do seu livro com um olhar para o passado como fonte correlata para reconstruir fragmentos de vida social, de instituições e de mentalidades que ainda fazem parte da identidade nacional hoje.
Para Holanda a principal contribuição brasileira à civilização seria a característica cordial que plasma o caráter brasileiro, ou seja, a “lanheza” no trato, a hospitalidade, a generosidade, porém para o autor de Raízes do Brasil a cordialidade não tem nada a ver com boas maneiras e com a polidez ou coisas afins, mas envolveria controlar e esconder as emoções, graças à subordinação da conduta à máscara da polidez fazendo desta um disfarce. A leitura do homem cordial como homem afável é equivocada. Com o conceito, Sérgio Buarque está mostrando outra coisa, está mostrando que “esta "cordialidade", na verdade, é uma maneira de reter vantagens individuais” (CARDOSO, 1993). A impossibilidade que o brasileiro tem em se desvincular dos laços familiares a partir do momento que esse se torna um cidadão, gerou o “homem cordial” segundo o autor.
No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrario, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal. Dentre esses círculos, foi sem dúvida o da família aquele que se exprimiu com mais forca e desenvoltura em nossa sociedade (HOLANDA, 1936, 146).
Na obra elaborada por este autor encontramos os traços que explicam a indiferença herdada da colonização quanto ao trabalho na formação da identidade do brasileiro e dicotomia entre trabalho intelectual e manual, sendo esta última atividade vista com maus olhos por aproximar-se ao trabalho servil e braçal realizado pelos escravos.
Em Raízes do Brasil Sérgio Buarque de Holanda afirma que a formação da identidade nacional só acontecerá quando conseguirmos romper com os padrões colonizadores, escravocratas e patriarcais do antigo regime colonizador.
Partindo deste princípio Holanda diagnostica uma sociedade baseada em padrões escravocratas, agrícolas, patriarcais e monocultoras razões do sentimento de atraso que ele confere à nossa sociedade. A aristocratização atua na configuração das desigualdades sociais marcadas pelas posições (FERNANDES, 1976). Segundo ele, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada diretamente à colonização e ao seu legado cultural, político e institucional lusitano.
Em Caio Prado Junior o processo de colonização por sua vez permitiu que se esboçasse uma nacionalidade que foi aos poucos segundo este autor, se distanciando do seu modelo europeu prevalecendo aqui uma ordem social colonial com características próprias que explicará o sentido da colonização. Lapa in Mota (2001) argumenta que ao voltar o olhar para o passado cruzando o colonial com o contemporâneo, Caio Prado tem como principal objetivo fazer com que evitemos o futuro como “prosseguimento das contradições, desafios e injustiças” definidos no presente por meio do passado colonial que acomodou no Brasil “uma vasta empresa comercial, sem maiores preocupações em construir uma sociedade unitária e integrada. Empresa de exploração do que é encontrada e comercializável, que se estenderá à grande agricultura de exportação capaz de atender aos interesses europeus de consumo” (LAPA in MOTA, 2001, 263). Para Lapa o autor de Formação do Brasil Contemporâneo parafraseando Sérgio Buarque nos convida a realizarmos “a nossa revolução”.
Nas páginas de Formação do Brasil Contemporâneo o autor nos faz reconhecer que foi pela predisposição sexual do colonizador e a mestiçagem que deram o contorno e o traçado na engrenagem da formação da nossa nacionalidade.  Nesta obra o autor observa que a mestiçagem acontece mais do branco com o negro do que entre o branco com o índio motivação expressa devido as relações anteriores dos colonizadores com os mouros. Como marca da escravidão o autor muitas vezes confundido com racista explica o estigma provocado por meio desta relação e afirma a fusão que aconteceu entre o conceito de escravo e depois o de negro (tema retomado por FERNANDES, 2007), pois a seu ver, a escravidão conseguiu anular o que havia de positivo no negro e que “a potencialidade econômica, social e cultural, sob o ponto de vista da dignificação, que os índios e os negros ofereciam aos colonos portugueses, foi desprezada em favor de uma instituição à qual só interessavam o esforço e o exercício físico dos homens e mulheres escravos, tanto no trabalho quanto na cama” (LAPA in MOTA, 2001, 268).
Em Os Donos do Poder Raymundo Faoro explicita que na formação sócio-político brasileira há a permanência de um patrimonialismo estamental (os estamentos fundam-se na divisão da sociedade conforme a posição social que ocupam) , não tradicional, que tem sua origem em Portugal, caracterizado pela presença de um estamento burocrático sendo esta a ideia central do seu livro. É por meio desta ideia que ele justifica que o que caracterizou a formação nacional brasileira foi a existência de um poder central muito forte que inibiu qualquer formação social espontânea e que determinou todas as mudanças sociais de “cima para baixo”. Sendo marcada por este patrimonialismo, ele vê nesta herança a confusão existente entre o público e o privado consolidado pela existência de privilégios para um determinado grupo de indivíduos o embrião da formação brasileira.
Para o autor, a formação brasileira seria marcada pelo patrimonialismo estamental, que é marcado pela confusão entre o público e o privado, e pela existência de privilégios para um determinado grupo de indivíduos.
Enfim, o estamento “é uma camada de indivíduos que se organiza para se apropriar do Estado, dos cargos e funções públicas, impondo-se um regime de uso dessas vantagens advindas do status ocupado para a utilização da máquina estatal em proveito próprio”, como verdadeiros “donos do poder”, título que dá nome à sua obra (FAORO, 2001, 47).
Do exposto, fica evidente por meio das análises de Os donos do Poder que as desigualdades econômicas de hoje têm origem no sistema de exploração que a Metrópole portuguesa impôs à Colônia brasileira, fundado na escravidão, no latifúndio e no monopólio comercial.
Entretanto, em ‘O negro no mundo dos brancos (2007)’ Florestan Fernandes afirma que
O Brasil que resultou da longa elaboração da sociedade colonial não é um produto nem da atividade isolada nem da vontade exclusiva do branco privilegiado e dominante. O fato porém, é que a sociedade colonial foi montada para esse branco. A nossa história também é uma história do branco privilegiado para o branco privilegiado. (...) O negro foi exposto a um mundo social que se organizou para os segmentos privilegiados da raça dominante. (...) O negro permaneceu sempre condenado a um mundo que não se organizou para tratá-lo como ser humano e como “igual”. (...) Ao contrário, para participar desse mundo, o negro e o mulato se viram compelidos a se identificar com o branqueamento psicossocial e moral. Tiveram de sair de sua pele, simulando a condição humana-padrão do “mundo dos brancos” (FERNANDES, 2007, 32-33).


Para Florestan, as portas do mundo dos brancos não são instransponíveis, entretanto, para atravessá-las, os negros e os mulatos passam por um “abrasileiramento” que é, segundo este autor, um processo sistemático de branqueamento. “A abolição ocorreu em condições que foram verdadeiramente espoliativas, do ponto de vista da situação de interesse dos negros” (FERNANDES, 2007, 56). A ideia de que existiria uma democracia racial no Brasil vem sendo fomentada há muito tempo, mas é evidente que ela constitui apenas uma distorção criada após a abolição movida por interesses que beneficiavam a classe emergente no país uma vez que o sistema escravagista era visto como um entrave para a modernização econômica capitalista comercial competitiva que entrava em vigência.
Desta perspectiva fica claro que os problemas dos negros ou mulatos brasileiros são acima de tudo “um problema gerado pela incapacidade da sociedade nacional de criar rapidamente uma economia capitalista expansiva, capaz de absorver os ex-escravos e os libertos no mercado de mão de obra” (FERNANDES, 2007, 87). Por isso, eles foram expulsos para a periferia da ordem social competitiva sem contar que eles também foram expulsos para áreas afastadas da cidade tornando-os invisíveis a esta nova ordem e classe que emergia. Desta relação Florestan aponta as consequências.
A população negra e mestiça da cidade submergiram numa dolorosa era de miséria coletiva, de degradação moral e de vida social desorganizada. O abandono do menor, do doente ou do velho, a mãe solteira, o alcoolismo, a vadiagem, a prostituição, a criminalidade ocasional ou sistemática repontaram como dimensões normais de um drama humano sem precedentes na história social do Brasil (FERNANDES, 2007, 112).

Como resultado eles [os negos, os mulatos, e os homens livres] se viram compelidos a atuarem em estruturas semicoloniais e coloniais herdadas do antigo regime sem contar que eles não foram preparados para trabalhar como homens livres. Eliminando o escravo pela mudança social, o negro se converteu num resíduo racial (FERNANDES, 2007), ou seja, ele perdeu a condição social adquirida no regime escravagista sendo relegado como afirma o autor à condição de ‘negro’ categoria mais baixa e, por conseguinte ser tratado como subalterno selecionado negativamente pela nova ordem tendo que se contentar com aquilo que seria mais tarde conhecido como ‘serviço de negro’.
Para fins de conclusão desta exposição considero que o preconceito e a discriminação surgiram na sociedade brasileira por meio da escravidão assegurada pela moral católica que prescrevia a normalização da escravidão do homem pelo homem e que ao negro este regime era imputado para salvar a sua alma, convertendo a escravidão numa relação aparentemente piedosa e misericordiosa. “Sem a ideia de que o ‘negro’ seja ‘inferior’ e necessariamente ‘subordinado’ ao ‘branco’, a escravidão não seria possível num país cristão. Tomaram-se essas noções para dar fundamento à escravidão” (FERNANDES, 2007, 61). A simples negligência de problemas culturais, étnicos e raciais numa sociedade tão heterogênea indica que a preservação da desigualdade é mais poderosa que o seu contrário.
Para Florestan (2007) a descolonização e o pensamento colonizador ainda está em processo. Para ele, o que desapareceu historicamente foi o ‘mundo colonial’ porque o institucional e funcional ainda subsiste estando presente em quase tudo que é essencial para o capitalismo dependente: “na posse da terra, na organização da agricultura, na autocracia dos poderosos, na espoliação sistemática e na marginalização dos pobres e principalmente nos padrões de relações étnicas e raciais, por natureza ilegítimos, extracristãos e antidemocráticos” (FERNANDES, 2007, 290).
Por fim, não poderá haver integração nacional, em bases de um regime democrático, se todas as pessoas não contarem com oportunidades equivalentes de participação nas estruturas nacionais de poder.



A carne
Compositor: Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette


A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão

O gado aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento, mas muito bem intencionado
Enquanto esse Brasil vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra.









REFERÊNCIAS
CARDOSO, Fernando Henrique. Livros que inventaram o Brasil in Estudos Históricos. Revista da Associação de Pesquisa e Documentação Histórica (APDOC). Rio de Janeiro: Editora FGV, 1993.

FERNANDES, Florestan. Circuito Fechado: quatro ensaios sobre o “poder institucional”. São Paulo: HUCITEC, 1976.

____________________. O negro no mundo dos brancos. 2ª ed. revista. São Paulo: Global, 2007.

FURTADO, Celso. O longo amanhecer: reflexões sobre a formação do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

FAORO, Raymundo. Os donos do Poder. 3ª ed. revista. Vol. Único. Globo: 2001.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

IANNI, Octávio. Raças e classes sociais no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

MOTA, Lourenço Dantas. Um banquete no trópico. 3 ed. São Paulo: Editora Senac, 2001.

SODRÉ, Muniz. Claros e Escuros: Identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis: Vozes,
2000.









CULTURA

Segundo CUCHE (1999) a noção de cultura é um conceito fundamental às ciências sociais uma vez que, é este conceito que nos auxilia a pensar a unidade da humanidade em seu todo diverso muito além da conceituação biológica e restrita da antropologia antiga. Para o autor é a cultura que responde as diferenças entre um povo e de um grupo localmente hierarquizado.
A leitura atenta do texto “A noção de Cultura nas Ciências Sociais” de Denys Cuche evidencia de forma bastante clara e nos encaminha a uma compreensão de que o homem é um ser de cultura e por meio dela ele caminha em uma história singular se apropriando dos artefatos culturais disponíveis formando-se e fazendo sua identidade no meio de um povo. A educação caminha neste trajeto quando o professor compreende a história particular de seus alunos permeada pelas particularidades da família, da comunidade e dos grupos sociais que o aluno transita fazendo do mesmo um ser idiossincrático. O autor afirma em seu texto que “A cultura permite ao homem não somente adaptar-se ao meio, mas também adaptar-se este meio ao próprio homem, às suas necessidades e seus projetos” (CUCHE 1999, 10).  Compreende-se, portanto, que a cultura torna possível a transformação da natureza.
Para o autor em questão, mesmo sendo possuidores de uma mesma carga genética os povos se diferenciam por suas escolhas culturais, entretanto, é sabido que ao falarmos de cultura, estamos falando de relações passíveis a transformações e que para se entender uma identidade cultural é preciso antes de tudo estudar as relações que os povos fazem com seus grupos vizinhos.
Denys Cuche afirma que “cada povo, através de sua cultura própria, tem um destino  específico a realizar” (CUCHE 1999, 27). Cada cultura por sua vez, exprime à sua maneira um aspecto da humanidade, por isso, cada cultura é única, específica e é a partir desta compreensão que entendemos o relativismo cultural. Dito isto não podemos em hipótese alguma julgar um cultura em detrimento a outra para não incorrermos em etnocentrismo. Em “A Noção de Cultura nas Ciências Sociais”, o autor afirma: “Cada cultura é dotada de um ‘estilo’ particular que exprime através da língua, das crenças, dos costumes, também da arte (...) um modo único de ser homem e na medida em que cada cultura exprime este modo único de ser homem, ela tem o direito à estima e a proteção, se estiver ameaçada” (CUCHE 1999, 45-46). Portanto, cultura, é um caráter distintivo e inerente à espécie humana.

REFERÊNCIA:
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999.




Esse meu mundo trago bem perto para não me perder no vazio existencial.  Nele sou sendo inteiro sem reservas. Minha vida é única e nesse mundo único sou no conjunto das coisas e das pessoas. Se dele quiser participar é preciso pedir licença. Não entre de forma grosseira, não vá invadindo todos os espaços saiba demorar em alguns, busque me conhecer e ficando saiba que conhecido será também. Ficar é relação de troca. Eu me dou a ti à medida do teu ficar e se permanecer foi porque tudo foi verdade. Eu Sou Sem Medo de Errar.