Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Centro de Educação
Departamento de Fundamentos
Sócio-Filosóficos da Educação
Disciplina: Fundamentos da Educação
1.
O
livro didático é ideológico? Explique.
Silva
e Carvalho em “O livro didático como instrumento de difusão de ideologias e o
papel do professor intelectual transformador”, afirmam que o livro “como
principal orientador do trabalho de professores e alunos na escola” é um instrumento
de difusão de ideologias. Sendo assim, os professores não devem ser apenas
seguidores fieis das orientações contidas dentro deles, mas eles [os
professores] enquanto “intelectuais transformadores” devem burlar as suas leis
e fazer do livro didático um importante veículo de construção do senso crítico
e da contra-ideologia.
O
livro didático por sua vez, deve ser empregado como um instrumento que pode
“contribuir no favorecimento de uma conscientização sobre as pluralidades
culturais que compõem a realidade social” afirmam Silva e Carvalho. Para estes
autores o livro didático por trazer uma carga ideológica acentuada não pode ser
transmissor e propagador da manutenção de preconceitos e do fortalecimento dos
valores hegemônicos legitimadores existentes na sociedade que silenciam as
vozes das minorias excluídas.
O
livro didático afirmam os autores, “muitas vezes, atua como difusor de
preconceitos, através das ideologias que carregam seus discursos”. Em uma
sociedade marcada pela luta de classes verificamos que a classe que está no
poder sustenta e legitima suas ideologias
fazendo prevalecer suas “narrativas e discursos presentes nos textos dos
livros didáticos, assim como, as representações, concepções e significados” que
encerram nos conteúdos que são escolhidos para pertencer ao campo didático do
livro.
No
texto em questão os autores são categóricos ao afirmar que “os discursos e as
imagens veiculadas nos livros didáticos têm o poder de representar pessoas,
costumes, posturas e valores, podem contribuir para ‘dizer’ que determinados
costumes, posturas ou ações estão ‘certas’ ou ‘erradas’ (...), dentre inúmeros
outros aspectos que transitam ideologicamente pelas páginas destes materiais
nas escolas”.
É
sabido que não existe neutralidade na elaboração do livro didático como também
não existe neutralidade na educação. A
partir modelo de escola que estamos construindo e independente do papel que
assumamos na escola o livro didático terá sempre uma função.
02. Qual o papel do
professor no trato e trabalho para com o livro didático? Pontue explicações.
Para
Gómez (1998) “a prática docente é uma atividade complexa, que se desenvolve em
cenários contextuais singulares, com resultados imprevisíveis e envoltos nos
mais diversos conflitos valorativos” e o ensino “um processo de transmissão de
conhecimentos e de aquisição da cultura acumulada historicamente pela
humanidade”. Portanto em sala de aula o professor é o agente da autonomia na
transmissão destes saberes e de como transmitir estes ensinamentos sabendo filtrar
as marcas ideológicas encontradas no livro didático. Por sua vez também
enquanto profissional do ensino o professor enquanto “investigador reflexivo”
deve contribuir para o desenvolvimento emancipador dos alunos a ele confiados.
No
atual contexto educacional, os autores julgam ser “imprescindível que os
professores sejam capazes de contribuir na formação de pessoal para atuar de
forma consciente no entorno comunitário onde vivem, (...) que sejam capazes de
efetivarem escolhas que possam, de alguma forma, refletir positivamente em sua
vida e na existência de seus pares” servindo para a formação de estudantes que
“possam vir a se tornar sujeitos sociais emancipados, cidadãos reflexivos e
ativos” no seio da sociedade.
Os
autores sinalizam que se pensarmos a escola a partir de uma concepção
democrática teremos um trabalho pedagógico voltado para uma formação mais
integral dos alunos onde os aspectos cognitivos, humanos, afetivos sejam
perpassados pela ética e pelo respeito.
Neste
sentido, o papel do professor segundo os autores é em sala de aula estabelecer
a contra-ideologia dos discursos presentes no livro didático desmistificando
supostas verdades fazendo os alunos compreender que todo discurso é carregado
de intenções porque são construídos historicamente segundo interesses da classe
hegemônica que dissemina informações com o maior poder de convencimento
possível tornando a informação uma verdade aceita e inquestionável.
Por
fim, Silva e Carvalho atestam que enquanto intelectuais transformadores, os professores,
devem “lutar pela transformação, ou construção, do livro didático num
instrumento facilitador do trabalho pedagógico, no sentido de dar ‘voz’ às
muitas e diversas concepções silenciadas nos discursos e nas imagens destes
livros”. Enfim, cabe aos professores se apropriarem criticamente das
informações contidas nos livros didáticos tornan-do-as parte de um discurso resignificado
que conduza a ações que contribuam para mudanças significativas na vida dos
alunos.
Giroux
(1997) enfatiza que os professores devem assumir responsabilidade ativa pelo
levantamento de questões sérias acerca do que ensinam assumindo um papel
responsável na formação dos propósitos e condições de escolarização.
Referências:
GIROUX,
Henry A. Os professores como
intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre:
Artmed, 1997.
GÓMEZ,
A. L. Perez. A função e formação do professor/a no ensino para a compreesão:
diferentes perspectivas. In: SACRISTÁN, J. Gimeno e GÓMEZ, A. L. Perez. Compreender e transformar o ensino.
4ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SILVA,
Robson Carlos da. CARVALHO, Marlene de Araújo. O livro didático como instrumento de difusão de ideologias e o papel do
professor intelectual transformador. UFPI.
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