
Oi amigos blogueiros, quero com vocês refletir um assunto um tanto sério que compromete cada um de nós frente a nossa identidade e sobrevivência neste mundo. O título deste texto à primeira vista assusta, parece complicado mas ele diz claramente da nossa disposição pessoal, interpessoal e transpessoal perante as novas facetas com que o mundo se apresenta atualmente.
Lendo o livro de Leonardo Boff, "Virtudes para um outro mundo possível, da editora vozes", deparei-me logo de cara com um questionamento feito a mim pelo autor. Pergunta muito desafiadora e difícil de ser respondida às pressas. A pergunta do Boff era a seguinte: Que virtudes são minimamente necessárias para garantir um rosto humano à globalização?
Como você pode perceber não é tão fácil responder a esta provocação, faz-se necessário demorar na pergunta para encontrar um caminho que nos leve a uma resposta desafiadora e bastante complexa.
Ele, o Leonardo, começa a sua provocação com a palavra "virtude"palavra originada de virtus que significa força. Mas onde e em quem o homem do século XXI, se apóia e abstrai virtus em meio a uma sociedade violentamente atacada por pseudos valores? Uma sociedade às avessas, destruída moralmente em seus comportamentos e atos?
A pergunta é tão desafiadora que é merecedora de uma resposta a sua altura. O desafio continua, porque as virtudes que aqui estão sendo questionadas são as mínimas. Em que local da corporeidade humana ou em quais exemplos de hombridade humana podemos encontrá-las, parece tarefa tão difícil, que o autor, miniminiza-as. Não precisa ser grandes virtudes não! O que é pedido aqui são as mínimas virtudes "necessárias" para garantir um rosto humano à globalização.
O que mais me assusta nesta provocação é que são tais virtudes que darão a garantia, ou seja, identidade, um rosto humano à globalização. Aqui o nosso raciocínio começa a "feder", queimando as suas "pestanas" para chegar à luz e compreesão, no afã, de partejar uma resposta cabível. Um rosto humano! A questão intrigante neste questionamento e que nos chama a atenção é o pedido de dar um rosto humano à globalização. Rosto humano!
Muitos foram os teóricos que ao longo da história, tem se esforçado para nos ajudar a responder esta pergunta, tantos nomes, tais como Edigar Morin, sociólo francês com a sua Teoria da Complexidade, Frijó Capra com a interconecção de todas as coisas num mesmo evento que se desenrola em cadeia. A teoria do Caos que explica que toda passagem envolve riscos e oportunidades. O caótico gestado de ordem. Paulo Freire, com a sua arguta sabedoria em querer que os homens do seu tempo e posteriores a ele fossem homens críticos, desenvolvessem uma razão criticizada, para não se deixar emburrecer e embrutecer por forças coercitivas "dos grandes". Bom, poderia aqui mencionar várias pesoas. Mas a verdade é: Nós, eu e você, imergimos do meio de um mundo que não apenas rompeus suas barreiras territoriais e intercambiais, mas imergimos de um mundo cada vez mais globocolonializado, onde perdeu-se o respeito, rompeu-se as barreiras territoriais, mas construiu um muro de resistência há uma convivialidade possível, respeitosa e agradável entre os homens. A intolerância impera, impedindo a alteridade, o altruísmo e o respeito pelo diferente e pela diversidade.
Independente dos riscos e das oportunidades, toda transição implica uma dimensão de continuidade e outra de novidade. Pertençe a natureza humana a capacidade de ser utópica. Ela traz em si o desejo de nos transportar a horizontes cada vez mais altos e abertos. Na doutrina cristã, chamamos essa dimensão de esperança, função que nos convida a nos desistalarmos e fazernos andar, andar, andar...
Agora, nunca como antes, faz-se urgente escavacarmos em nosso interior a virtude da hospitalidade, ou seja, a mútua acolhida que se desdobra na abertura generosa que supõem num despojamento (kénosis) dos conceitos e pre-conceitos, para compreendermos a diferença como diferença e não como desigualdade e inferioridade ou como mero prolongamento daquilo que é nosso. Enxergar o outro, o diferente de mim, não como uma ameaça ou quebra do equilíbrio e harmonia"angelicais" do mundo, dito perfeito, preso a seus convencionalismos, há padrões que os próprios homens criam e que acabam se tornando também vítimas. O que nos faz ser propriamente humanos é a nossa capacidade de acolher, de saber cuidar. Sem sensibilidade não há movimento de ida ao encontro para socorrer o outro, de sentir e perceber imediatamente o outro em sua necessidade, seja lá quem for esse outo, ou melhor, o outro como aquele que possui outra opção sexual que aquela consagrada socialmente, o outro que padece em suas enfermidades, o outro que ocupa uma outra classe social e por isso torna-se um excluído socialmente e por fim o outro enquanto estranho. Estranho é todo aquele que não se encaixa nos critérios comuns de determinada vida social. Todo estranho produz o sentimento de estranheza associado ao receio e ao medo, então para defender-se a sociedade enxota o estranho de seu meio seja pela persuasão, pre-conceito e até mesmo violência. Mas o estranho pode provocar curiosidade e a vontade de entrar em contato para conhecê-lo, saber de sua vida, ouvir sua história. Este tipo de relação pode ser fecunda na medida em que o estranho revela outro mundo ou dimensões escondidas da realidade que nós insistimos em não querer ver. Acredito, que na medida, em que o outro se torna conhecido e se estabelece relações de troca, o estranho deixa de ser estranho e passa a ser um DIFERENTE, mas membro da mesma comunidade. Aqui implica seriamente uma transformação fundamental na consciência da sociedade, supondo uma mudança de paradigma. Cada vez mais percebe-se a forte mudança de nossos pararadgmas civilizacionais. destruição de valores, princípios, sonhos, relações sociais.
Nos deparamos com a mais perfeita afirmação:"Nem a Terra nem o ser humano estão prontos. Continuam evoluindo, se expandindo e nascendo em processos de gênese continuada". (BOFF, 2005) Se assim não for perdemos a esperança, o amanhã estará ameaçado de não nascer. Não que eu seja idiota de pensar em uma sociedade mais justa e mais fraterna. Penso que dista-se cada vez mais este desejo. Não que eu desacredite na realidade ou no desejo desta justiça e fraternidade. É o que todos sonhamos, se não todos pelo menos uns poucos. Mas é de se encarar de frente que quanto mais buscamos a justiça e a fraternidade mais alonga o nosso percurso ao encontro de tais sonhos. Quanto mais eu busco aquilo que procuro, ele sempre foge. O ser humano é um ser de eterna busca. busca sempre fugídia.
Destacarei uma outra virtude para uma convivialidae possível: a compaixão, um esquecer-se de si e ir ao encontro dos outros com ânimo de acolher e de cuidar. Compaixão, não como sentimento de pena, mas como capacidade de desprender-se de si mesmo para conpadecer-se com as agonias do outro, para dispor-se a estar ao seu lado, como se assim disséssemos: "Olha, estou aqui, mesmo se for para apenas te escutar, ficar calado".
Por fim, gostaria de junto contigo refletir que tudo passa pelo outro, a relação com o outro suscita a responsabilidade, o outro faz emergir em nós a ética que nos obriga a uma atitude de acolhida ou de rejeição.
Aqui pretendi esboçar algumas virtudes para uma convivencia possível neste nosso mundo, virtudes que pressupõem a acolhida do outro como outro, o respeito pela sua singularidade e a disposição de uma aliança de amizade fraterna e duradoura com este outro, que é DIFERENTE.
Sartre, filósofo existencialista afirmava que o inferno não é o outro, um filósofo judeo-alemão pouco conhecido chamado Matin Buber(1965) nos deixou uma célebre epígrafe com a qual concluirei este texto.
"Se vivermos justa-postos acabaremos opostos, por isso precisamos ser sempre compostos, entrar em alguma composição para conviver juntos".
Abraços,
Luciano Medrado.
Lu, ano passado meu coordenador pedagógico utilizou esse livro como temática para trabalhar com os alunos durante o ano letivo, e eu tive a oportunidade de ler alguns trechos. Senti muita dificuldade em falar desses temas com os adolescentes, e me assustei com tamanha frieza. Será que um dia essas mínimas virtudes farão parte da cerne de pelo menos metade de nós? Beijo e parabéns!
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