TEMPO DE PREPARO, TEMPO DE DEMORA


Gosto muito desta epígrafe que diz que o tempo é a tardança daquilo que se espera, utilizo muito esta expressão para compreender as tardanças e as demoras dos meus sonhos e minhas realizações porém aqui confesso um pouco de minha impaciência também. Mas este tempo de espera, nunca pode ser vazio, deve ser preenchido por sentimentos de fé e confiança corajosa naquilo que se espera. Aprendi que só vale a pena lutar por aquilo que me dignifica enquanto ser humano em construção, em processo,em constante feitura. As nossas escolhas podem até parecerem a um certo olhar erradas. A capacidade de escolher é uma realidade humana. Errar é exercer o livre arbítrio, acertar também!
Eu não nasci para ser uma fachada. Eu não estou condenado a ser sepultado por ela. Quando Jesus chamava alguém para junto de si, chamava essa pessoa para se tornar aquilo que ela é.
A vida humana é feita de encontros e desencontros que se cruzam fazendo e refazendo sempre novas histórias, vamos tecendo uma trama de relações de completude, onde o dividir experiências não é se diminuir frente ao outro por causa dos erros, mas somar. Somente quem soube debruçar num colo amigo descobriu que é assim, sentindo-se amparado, olhado, merecedor de atenção que descobrimos o valor que trazemos, o saber de saber que se é importante, amado e valorizado.
Você já viu uma nota de dinheiro num valor bastante elevado, porém estragada, por ter passado de mão e mão, lugares, situações e experiências? Se sua resposta for sim, você pode concordar comigo que embora esta nota de dinheiro esteja nestes estados ela não deixa em hipótese nenhuma de vir a perder o seu valor. Não sei os caminhos que você andou, as mãos pelas quais você passou, os lugares que você freqüentou, as situações e experiências que você viveu. Eu sei de mim, nada sei de você. Mas uma coisa eu posso afirmar, se uma nota de papel mesmo no estado em que foi descrita continua possuindo o seu valor, o que dizer de você e eu, homem e mulher, criados e dignificados, assumidos como imagem do criador?
Todas às vezes que estabelecemos relações sociais estabelecemos papéis, e um papel sustenta o outro. Nas relações familiares, o tempo todo estamos representando papéis. Lamentavelmente as relações humanas passam por comparação e isso é muito prejudicial no desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo, ou seja, eu não sou o outro, posso estar no outro, posso estar com o outro, me identificar com ele, mas eu não sou ele. Sou sempre um estranho para mim mesmo, porque nesta vida cada pessoa passa e experimenta situações que podem até ser parecidas, mas o que forma a nossa personalidade é a capacidade como cada um de nós reage frente às intimidações do real e este imprimindo em cada um uma marca diferente.
Quando falamos de relacionamento é preciso identificar dois princípios: como eu interpreto os papéis que me são impostos e como Eu permito que esse papel, construído e interpretado por mim, influencie minha vida de tal forma que determine meu comportamento e os meus relacionamentos interpessoais. É tarefa minha destruir os papéis que representei ou que me forçaram a representar. Eu não posso permitir ficar preso aos papéis que os outros criaram para mim. No momento em que mantemos uma relação de dependência escondendo-se ou afirmando-se naquilo que o outro pensa a meu respeito, eu vou me afastando cada vez mais da minha liberdade de ser eu mesmo, ou seja, de participar da experiência do self, do si mesmo, introduzida na psicologia analítica por Jung.
Qual é o papel social que eu estou desempenhando? E é preciso saber se esse papel é honesto, se condiz com as minhas aspirações e caráter. Ninguém pode ser limitado a ser a representação do que fizeram para si. Isso é limitar a capacidade de recriação e autopoise (produzir-se) da própria vida.
Uma palavra tem a duração do tempo que a gente permite.
Existem pessoas que precisam reinaugurar o seu jeito de ser e viver os enfrentamento inerentes a nossa condição constantemente. Se a manhã não deu certo, inaugure a tarde e faça ela dar certo. Assim, a gente corrige, e assume uma nova postura diante daquilo que nos fazem determinar.
Conhecer alguém, ou conhecer a si mesmo é fazer sempre a experiência de transpor a ponte, ou seja, chegar ao outro lado, não que vamos esbarrar e esgotar nos limites do que nos espera do outro lado àquilo que ainda é desconhecido, o não desvelado. Porque nunca conhecemos quem quer que seja por inteiro e por completo. Ninguém é revelável por inteiro. O ser humano é feito de múltiplas facetas.
Termino afirmando e até a uma primeira vista parece ser estranha esta afirmação, mas sei que você terá a capacidade de compreendê-la:
Eu sou feliz porque todos os meus defeitos podem ser vistos e por serem vistos podem ser trabalhados para tornar-me mais e melhor, um ser humano dígno e merecedor de respeito, o maior desafio é descobrir o significado destes defeitos quando esbarramos na precariedade da vida humana.
Pense nisto e compreenda o tempo e a tardança do fazer-se. Seria interessante colocarmos uma etiqueta em um local visível com uma inscrição: Paciência, ainda estou em fase de construção! Mas acredito que seria patético.
Com carinho,
Luciano Medrado.

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