(RE)CONHECENDO A DIFERENÇA.


Pensar em uma ética inclusiva faz parte das grandes questões do nosso tempo. Edgar Morin, sociólogo francês, nos ajuda a indagarmos e nos questiona sobre o que crê? O que fazer? Nesta sociedade de que fazemos parte, são estas perguntas que nos norteiam na busca de um sentido a nossa ação.

Frente a estas indagações o que devemos faze? Como devemos nos comportar como homens e mulheres, cidadãos da mesma casa comum?

Estamos hoje reunidos para pensarmos eticamente o reconhecimento inviolável da igualdade de direitos e valores entre homens. O reconhecimento e o respeito às diferenças seriam altamente positivos se na vida real a desigualdade não fosse tão assuntuosamente praticada. Até onde vai o teu respeito? Aonde chega a tua alteridade? A distorção que foi feita da noção de igualdade de direitos e valores traz, dentro de si mesma, a contradição da ética.

O termo inclusão reflete o momento histórico de um processo de progressão por que passa a visão de nossa sociedade relativa à deficiência. O que, afinal, sugere essa prática? A prática de inclusão reflete uma luta por educação para todos que, por sua vez, faz parte do processo maior ainda de luta pelo reconhecimento da igualdade de valores e direitos entre os seres humanos.

Uma prática social de inclusão supõe o abandono definitivo de práticas e relações sociais discriminatórias, inscrito num profundo processo de mudanças atitudinais de uns em relação aos outros. E dentro desse processo é preciso quebrar, tabus como, por exemplo, o dos indivíduos que pensam está acima do social (pessoas consideradas ditas normais) ou tão acima de todos e de tudo, que se julgam não dependentes de nada e de ninguém.

O processo de inclusão é um processo de construção de uma sociedade para todos e dentro dessa sociedade um dos direitos básicos de todos os seres humanos é a aspiração a felicidade, a qualidade de vida. Este é um valor inquestionável, fundamental e absoluto, embora a felicidade sempre se apresente diante de nós como um valor relativo. Como valor ela é a essência da qualidade de vida dos indivíduos, sendo a felicidade um estado que expressa o nível de qualidade de vida, não há motivos para não ter motivos para não ter o direito de aspirar a níveis de uma qualidade de vida cada vez maior e melhor.

Ficamos felizes quando os nossos objetivos são concretizados, e a experiências nos mostra que todo indivíduo seja ele com necessidades especiais ou não, aspira sempre, a um grau maior possível de felicidade, o que levou Thomas Mores (Morus) a afirmar que "o importante na vida é nunca estarmos satisfeitos", já que há sempre novos patamares a alcançar na busca permanente da felicidade.

A natureza cria os seres, e os homens desiguais: é a sociedade que às vezes luta para erradicar suas peculiaridades individuais. A igualdade biológica não existe. Cada ser humano é microcosmo com diferentes capacidades.

Se todos somos diferentes, será que é verdade que é a sociedade que institucionaliza as desigualdades?

Sendo a desigualdade inevitável em uma sociedade construída em bases hierarquizadas, é fundamental apelar para políticas, de valorização das diferenças, já que o processo de uma sociedade depende de indivíduos criativos e determinados agindo em clima de liberdade. É preciso, portanto, incentivas a ação dos indivíduos através de suas diferenciações, e a ética da inclusão deve concretizar-se em atitudes que favoreçam que os indivíduos sejam e o sejam plenamente, sem esconder suas competências sem renunciar a expectativas de felicidade.

Apesar da diferenciação ser a grande lei da natureza, a sociedade constrói todos os dias o elogio ao homogêneo e recorre a todos os mecanismos para homogeneizar: os modos de pensar, as formas de pensar, de sentir e sentir-se.

Esse profundo esfacelamento de valores deram lugar a formas estranhas de individualismo que não mais são do que uma perversão da subjetividade, já que este individualismo não é um triunfo das desordens sociais políticas ou religiosas, mas a formação de indivíduos alheios uns aos outros já que a realização hedonista parece ser para muita gente mais importante do que a conquista da autonomia e da liberdade.

Se o individualismo moderno é tão profundamente cunhado pelo narcisismo, o que se pode esperar do futuro de nossa sociedade?

A universalização necessária a uma postura ética tornar-se-á possível? Que significado podem assumir numa tal sociedade, sentimentos coletivos, e comunitários? Como o individualismo vai poder se reconciliar com o Outro em sua radical alteridade e numa indiferença a mais absoluta?

É em meio a estas perguntas tempestivas, complexas que quando transpostas para o campo educativo nos adverte Ricouer em Tempos e Histórias 1985:



Se um lado, os modelos onto-antropológicos da natureza (boa ou má), da razão, da produção, do trabalho, do sujeito concebido como móvel de forças inconscientes, são vítimas do contra-golpe dos "crepúsculos trágicos", do eclipse da metafísica, do fim das certezas sobre as quais a ciências foi construída e das desordens provocadas pelo poder das tecnologias sobre as mutações do agir humano.


O modelo de uma natureza decaída inspirado tanto na teologia judaico-cristã quanto na metafísica platônica da ruptura inspirou nestes novos futuros pedagógicos de compensação, recuperação e adestramento em geral mal-sucedidas. O modelo de uma natureza boa, na perspectiva de uma compreensão Aristotélica ou Russoniana inspirando as pedagógicas do prazer, da liberação dos desejos, da total confiança no homem também experimentem hoje pouco êxito. A natureza humana em toda a sua constituição bio-psico-social, permanentemente modificada por uma cultura da técnica procuram afastá-lo cada vez mais da natureza como é visto a olhos cada vez mais nus às manipuláveis genéticas, os condicionamentos da psicologia, etc.

No cenário educacional, outros modelos pedagógicos fundamentados no racionalismo e na reflexão, na concepção de um sujeito livre e autônomo inspirando correntes pedagógicas voltadas para o conhecimento objetivo do educando e para a transmissão sistematizada de saberes utilitários. Outros modelos abarcam-se num homem da produção e do trabalho, pensado como artífice de si mesmo e da sua própria história, por sua capacidade de transformar a natureza e superar as dificuldades do real que nos é apresentado e imposto.

Eis porque toda ação educativa se funda sobre uma representação, explícita ou não da essência do homem. Em nossa época estes modelos estão em crise e a educação se encontra mergulhada num conjunto de contradições e paradoxos. Mas o que fazer?

Luciano Medrado. (Graduando em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB / Campus de Jequié - BA)



Um comentário:

  1. este texto é muito parecido com o do professor José Pires. Cuidado com a ética!

    ResponderExcluir