QUESTIONAMENTOS.


Buscar é percorrer estradas às vezes longínquas, é um distanciar-se sempre num encontrar constantemente. E o que procuramos sempre foge, por isso estamos buscando sempre, somos seres de busca e quando encontramos o que procuramos não temos o direito de reter nada, tudo escapa, nada fica. Não tenho o direito de seqüestrar a vida de ninguém e aprisionar sua liberdade em um cativeiro. Não posso acorrentar ninguém a mim, assim o tornaria escravo. Não posso condicionar ninguém, pois cada um têm a liberdade de construir sua personalidade ao longo das mais variadas formas de viver o real, ainda que encontremos pessoas que preferem a fantasia se acovardando frente aos enfrentamentos da difícil arte e feitura de tornar-se gente. A feitura humana começa no chão, nas pedras e é em meio às intempéries do cotidiano que o ser humano se rompe em “homo sapiens”. Mas são poucos que se encontram neste estágio de maturidade e não percebem que é nessa árdua tarefa que o ser humano irrompe do seu estado de demência a que muitas vezes a cotidianidade o subjuga e condiciona.
O homem hoje, com toda a sua genialidade, inventabilidade e criatividade, com toda uma capacidade lúdica que lhe é própria (ludicidade aqui não me refiro apenas a capacidade de fantasiar mas muito mais a capacidade de criar), está se tornando um predador de si mesmo, está se tornando mais uma vez repito demente (demens) idiotizado por falsos conceitos e ideologias que emburrecem suas mentes, chegando próximo à barbárie.
Parece brincadeira, mas não sei se é conveniente aqui neste parágrafo tocar no assunto, mas um dia assistindo ao noticiário ouvi dizer que o Brasil está entre os primeiros na fileira dos países que mais reciclam e é até modelo para muitos. Mas essas informações não divulgam o que está velado por detrás da notícia que aparentemente nos enobrece, mas a realidade se apóia num fato que nos enoja, causa náuseas, porque o evento do Brasil se destacar como modelo em reciclagem deve ser considerado pelo crescente número de empobrecidos e alguns vivendo abaixo da linha da miséria e por isso, enquanto muitos se divertem nas festas, carnavais, shows etc; eles estão lá catando os nossos dejetos, as nossas latinhas de cerveja ou guaraná para poderem sobreviver neste mundo irregular.
Estamos inseridos em uma sociedade hoje conhecida como a sociedade da informação, sociedade tecnológica, sociedade da cyber cultura, dos cyber espaços. As informações são lançadas a todo o momento ao nosso cérebro que atônitos não temos nem chance de decodificar o que recebemos. Tornamos-nos seres informívoros, mas de contrapartida é oportunizada para nós a capacidade ou às vezes nos é negada a chance de criticizar as coisas.
Esta sociedade hoje instaurada é a mesma que engendra dentro de seu próprio processo de desenvolvimento os info-excluídos, os excluídos digitais e tecnológicos.
Nesta sociedade tudo é mercadoria, quando digo tudo , é tudo mesmo, nem eu e nem você escapamos. A força humana como mercadoria, a inteligência humana como mercadoria. Como Pedagogo vejo escolas se tornarem em empresas, alunos em clientes e o meu saber como produto a ser vendido e quanto mais eu sei, quanto mais eu me aproprio constantemente de novos conhecimentos terei meu lugar no mercado. Aqui se aplica a teoria de Darwin, nesta lei neoliberal da seleção só os fortes sobrevivem.
Precisamos aprender com a vida, a cotidianidade tenta nos falar, mas nos mantemos surdos a sua voz.
Com carinho,
Luciano Medrado.

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