
Nesta semana, assistindo ao noticiário do jornal, deparei-me com uma situação muito fatídica. É de se estranhar, porque são tantas notícias fatídicas que cotidianamente ouvimos noticiar que parece que nos empurra a nos acostumarmos com as mesmas, não causando mais impactos em nós. É interessante notar como os apresentadores de um jornal trazem à público uma notícia horrenda, que fere a dignidade humana e logo após a exibição da matéria, preparando-se para tratar de um outro assunto (mais alegre), percebemos como a sua fisionomia modifica, como se o fato anteriormente noticiado, foi apenas mais uma das inúmeras notícias cotidianas.
Então me questiono: onde está a compaixão? Onde se escondeu o respeito pela dignidade humana? Qual o valor da vida? O que leva pessoas a tomarem posse da vida do outro e destruí-la? Por que pelo fato de ser "identificada" com uma prostituta, uma mulher é agredida? E uma prostituta não é gente, merecedora de todo o respeito e dignidade que lhe é próprio?
"Sirlei Dias Carvalho Pinto, empregada doméstica de 32 anos, que foi espancada por cinco jovens no Rio, afirmou na terça-feira, 26, que perdoou os agressores "como ser humano". "Mas vou cobrar na Justiça o que tenho direito", disse. (Portal do jornal o Estadão)
Experimentamos o caos no mundo, o ser humano distorcendo a ordem e a harmonia das coisas criadas. Presenciamos a estupidez humana elevada ao seu mais alto grau de selvageria. O homo sapiens, é demens. Se deixou abnegar e a ser reduzido aos seus instintos mais primitivos. A sua condição de demência.
A Sagrada Escritura nos ensina, que o homem foi criado a imagem de Deus, capaz de conhecer e amar seu criador, que o constituiu senhor de todas as coisas terrenas para que as "dominasse" e usasse, glorificando a Deus. Mas percebe-se que nesta sociedade Deus é deixado de lado, relativisado e não é mais motivo de louvor e glorificação. A sociedade corrompeu-se e de fato dominou o mundo, mas o dominou com sua impiedade, egoísmo, aprisionando-nos ao terrorismo.
Deus não criou o homem solitário. Desde o início, Deus os criou homem e mulher. Esta união constitue a primeira forma de comunidade. O homem é com efeito, por natureza íntima, um ser social. Sem relações com os outros, não pode viver e nem se desenvolver. Mais quais as relações que estamos fazendo, o que estamos deixando nos outros, quais as marcas da minha passagem na vida de alguém? Sei que tem gente por aí, que vive desolada pelas marcas que foram deixadas sofrendo com elas. Ninguém merece isso!
Diante de todas as coisas criadas, Deus se encanta com a sua beleza a ponto de exclamar que tudo era bom. Ele viu serem boas todas as coisa criadas.
Constituído por Deus em estado de justiça o homem contudo, instigado pelo malígno, desde o início da história abusou da própria liberdade. Levantou-se contra Deus desejando atingir o seu fim fora Dele.
O homem, olhando o seu coração, descobre-se também inclinado para o mal e mergulhado em muitos males que não podem provir do seu Criador que é bom.
Deixando de reconhecer a Deus como seu princípio, o homem quebrou a harmonia consigo mesmo, com os outros e com as coisas criadas, tornou-se um desequilibrado.
Constituído de corpo e alma, sendo estes, expressão do louvor e da glória de Deus, não é portanto lícito ao homem desprezar a vida corporal, em hipótese nenhuma, mas ao contrário, deve honrar e estimar o seu corpo, porque criado por Deus, é destinado à ressurreição.
Vulnerado pelo pecado (coagido por forças externas que o condicionam), o homem sente as revoltas do corpo. Portanto a própria dignidade do homem pede que ele glorifique a Deus em seu corpo, não lhe permitindo servir às inclinações do coração. Mas as situações e as realidades existenciais externas a nós nos coagem, despertando em nós os nossos impulsos, resultando em agressividade.
O homem dotado de inteligência (homo sapiens) deve zelar pela dignidade da consciência moral. Mas o que é isso?
No catecismo da Igreja Católica encontramos a resposta, vejamos: "Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e a fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei lhe soa nos ouvidos: faze isto, evita aquilo. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a sua voz". Então me pergunto: Por que tantos já não escutam mais essa voz? Por que tanta surdêz espiritual? O que é que aconteceu com a consciência das pessoas? Será que Deus se calou, ficou rouco de tanto gritar e o homem na sua imbecilidade tampou os ouvidos? A consciência humana foi anuvida? Foi chantageada? Foi "apropinada" ? Foi brutalizada? Foi mimada demais?
Quanto mais pois prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas se afastam de um arbítrio cego e se esforçam por se conformar às normas objetivas da moralidade.
Acontece não raro contudo, que a consciência erra, por ignorância invencível, sem perder no entanto sua dignidade. Ate que ponto?
O homem porém não pode voltar-se para o bem a não ser livremente. Embora esta liberdade atualmente está mal interpretada, por vezes a exergam, como uma licença de fazer tudo o que lhe agrada, até mesmo o mal.
A verdadeira liberdade porém é um sinal eminente da imagem de Deus no homem. Pois Deus quiz deixar ao homem o poder de decidir. Mas nem sempre decidimos o certo.
Portanto comprende-se que a dignidade do homem exige que este possa agir de acordo com uma opção livre e consciente, movido e levado por uma convicção pessoal e não por força de um impulso interno cego ou debaixo de mera coação externa. A sabedoria dos Padres do Deserto nos ensinam, que a todo momento devemos analizar os nossos pensamentos, perceber a motivação que desencadeou eles, para darmos a direção correta aos mesmos.
O ser humano se contrói e deve construir-se, não apesar da contradição feita de paradoxos (bem / mal, amizades / inimizades, sapiens / demens, Inteligência / Ignorância, violência / impiedade) mas com e através desta contradição. Na construção do humano entram o caos(desordem) e o cosmos (ordem). O ser humano se define pelos contrários e pelas escolhas feitas.
Se o homem é um ser dotado de dignidade e valor próprio, pergunta-se: porque o mal?
É um pouco estranha esta afirmação, mas espero que você a compreenda amigo leitor. O mal não está aí para ser compreendido, mas para ser COMBATIDO.
Com carinho,
Luciano Medrado.
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